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#8: O melhor “remédio” da infância
Como o brincar ao ar livre impacta o desenvolvimento infantil
EDIÇÃO #8
The Peds Journal
A newsletter da pediatria baseada em evidência - com leveza, profundidade e algumas risadas, por que não?!
A importância de “só brincar” (de preferência, lá fora!)
Lembra quando atividade física também era sinônimo de pique-esconde na rua e não só de mensalidade na escolinha de ballet, judô, natação, esgrima, hipismo, nado sincronizado…? Pois é, a ciência também lembra.
🧠 Como você vai ficar mais inteligente hoje
Tema: Atividade física ao ar livre e desenvolvimento infantil
Fonte: Journal of Outdoor and Environmental Education (Elsevier), publicado em 2020 - [Clique aqui para acessar o artigo completo]
Por que você deveria se importar?
Você acha que sabe, mas…
O que o estudo avaliou
O que os resultados mostram
Implicações práticas para os pediatras
Em 1 minuto: o que você precisa lembrar
Por que você deveria se importar?
Em um momento em que a medicina preventiva se torna cada vez mais central na prática clínica, incentivar a atividade física desde cedo é um investimento de longo prazo, e disso nós já sabemos
Crianças ativas têm menor risco de desenvolver obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares no futuro. Ou seja, quando orientamos os pais a deixar seus filhos explorarem o mundo lá fora, não estamos apenas cuidando do presente, estamos construindo bases sólidas para um adulto mais saudável amanhã. Essa é a importância da atividade física.
E atividade física na infância não é só “correr pra gastar energia”. O artigo de hoje nos mostra que o brincar, principalmente ao ar livre tem papel crucial não apenas na saúde física, mas também no desenvolvimento social, emocional e cognitivo das crianças.
Para nós, pediatras, isso significa enxergar o quintal, a praça e o parquinho como verdadeiros aliados terapêuticos, e não apenas como momentos raros que a criança tem entre os mil compromissos que as crianças de hoje tem após a escola (judô, ballet, natação, kumon, francês etc)
Você acha que sabe, mas…
Atividade física não é só esporte organizado, com uniforme específico, dentro de uma academia, com uma programação específica de aprendizado e competições… atividade física na infância não precisa de mensalidade ou medalha no final.
O estudo mostra que o brincar, espontâneo e, de preferência, ao ar livre, já gera impacto enorme no desenvolvimento da criança.
Se você nasceu nos anos 90 (quem chamar de velho toma block da newsletter ok? kkkkkkk) sabe que o futebol na rua, a corrida atrás do cachorro, o subir em árvore na casa da vó e até o disputar quem chega primeiro no escorregador, tudo isso é atividade física.
E aqui entra um ponto delicado: hoje em dia, o tempo de brincar “lá fora” vem sendo trocado por uma agenda digna de CEO.. ballet, inglês, natação, robótica, programação...
Tudo válido, claro, mas nunca esqueçam que se a criança não tem tempo de simplesmente correr, pular e se sujar, a gente corre o risco de tirar deles uma parte extremamente importante da infância…
E spoiler: telas, ambientes fechados e agendas apertadas nunca vão competir com a riqueza motora (e mental) que o simples ato de brincar “lá fora” proporciona.
O que o estudo avaliou
O artigo investigou como a atividade física realizada ao ar livre se relaciona com o nível geral de movimento e saúde das crianças.
Foram observadas crianças em diferentes contextos e ambientes, comparando quem passava mais tempo ativo fora de casa com aquelas que ficavam restritas a atividades internas.
O foco não foi só na quantidade de movimento, mas na qualidade da atividade realizada: diversidade de gestos motores, intensidade e interação social durante o brincar.
E adivinha só?
O que os resultados mostram
O achado principal é bem direto: quanto mais tempo as crianças passam em atividade física ao ar livre, maior o nível global de atividade física diária.
Além disso, essas crianças apresentaram:

Em resumo: liberar a criança para brincar na rua, praça ou quintal não é luxo, é saúde.
Um pezinho sujo, uma roupa que poderia claramente estar em uma propaganda da OMO.. isso é infância, e todo mundo merece vivenciar a alegria do brincar. E como a gente, como pediatra, pode garantir isso?
Implicações práticas para os pediatras
O artigo reforça o papel do pediatra como orientador ativo nesse tema. Na prática, isso significa:
Recomendar pelo menos 60 minutos/dia de atividade física moderada a vigorosa, preferencialmente ao ar livre;
Valorizar o brincar “livre”, além das atividades estruturadas;
Conversar com os pais sobre reduzir barreiras reais, como segurança, tempo, falta de espaço urbano;
Reforçar que a prevenção de obesidade, doenças crônicas e até dificuldades emocionais pode começar no… parquinho!
Se a gente já pergunta nas consultas “como tá a alimentação?”, também deveríamos perguntar: “e o tempo de brincar ao ar livre, como anda?”
⏱️ Em 1 minuto: o que você precisa lembrar
✅ Atividade física ao ar livre aumenta o nível global de movimento das crianças
✅ Mais parque = menos sedentarismo, mais gasto energético e melhor coordenação motora.
✅ O pediatra deve orientar: 60 minutos/dia de atividade moderada a vigorosa.
✅ Brincar fora de casa não é só diversão, é prevenção em saúde.
✅ Medicina preventiva não se resume a vacina e check-up: movimento também faz parte do calendário.
Se você chegou até aqui, parabéns.. enquanto muita criança treina coordenação motora subindo em árvore, você treinou seu raciocínio clínico descendo e subindo argumentos pediátricos para poder conversar com os pais no consultório rs
Mas brincadeiras à parte, entender que atividade física não é SÓ escolinha de futebol ou ballet é um divisor de águas na prática pediátrica.
Quando você recomenda que a família incentive o brincar ao ar livre, você não está só cuidando do IMC futuro da criança, mas investindo em coordenação, saúde mental e até prevenção de doenças crônicas. Medicina preventiva em sua forma mais pura e, vamos combinar, muiiiiito mais divertida também.
E já que estamos falando em prevenção e impacto, fica a dica: no PDC a gente acredita que conhecimento também precisa circular.
Quanto mais você lê, discute e compartilha essas evidências, mais forte fica a nossa rede de pediatras que realmente querem mudar a forma como cuidamos das crianças. Então… que tal encaminhar essa news pro colega que ainda acha que “atividade física” é só a natação três vezes na semana?
Ah, e fica o convite: semana que vem tem mais. Porque se brincar é treino pro corpo da criança, ler a The Peds Journal é treino pro nosso raciocínio clínico, e vamos combinar: nenhum dos dois pode ficar sedentário kkkkk (entra semana, sai semana, e as piadas continuam ruins.. sorry)
Beijinhos científicos,
Gabi do PDC