#13: Você vai ser substituída..?

O que toda pediatra precisa entender sobre AI hoje

EDIÇÃO #13

The Peds Journal

A newsletter da pediatria baseada em evidência - com leveza, profundidade e algumas risadas, por que não?!

De volta para o futuro…

Se você ainda acha que AI é só coisa de filme de ficção científica ou ferramenta pra trocar rostinho em vídeo, sinto dizer: ela já tá batendo ponto na medicina. E pode ser que, muito em breve, seja ela a corrigir a prescrição que você esqueceu de salvar no prontuário.

🧠 Como você vai ficar mais inteligente hoje

Tema: Artificial intelligence in healthcare: transforming the practice of medicine

Fonte: Future Healthcare Journal, 2021 (Royal College of Physicians) - [Link para o artigo completo]

  • Por que você deveria se importar

  • Você acha que sabe, mas…

  • O que o estudo mostra sobre AI na saúde

  • Onde estamos hoje e para onde vamos

  • Implicações práticas para pediatras

  • Em 1 minuto: o que você precisa lembrar

Por que você deveria se importar?

Porque a inteligência artificial não é mais só uma “tendência”, é uma realidade. E ela veio pra ficar, em TODAS as áreas, incluindo a medicina (e a pediatria)...

Em 2021 (sim, há 4 anos atrás esse tema já era debatido, pra você ver o quanto está atrasadinha rsrs), esse artigo já veio pra nos lembrar que os sistemas de saúde enfrentam o desafio da “quadruple aim”: 1) melhorar a saúde populacional, 2) a experiência do paciente, 3) a qualidade de vida do profissional e, não bastasse tudo isso, 4) reduzir os custos. 

E adivinha quem pode ajudar em todas essas frentes? Sim, a AI. Ela promete otimizar fluxos, apoiar diagnósticos, personalizar tratamentos e até “devolver tempo” pra, no nosso caso, o pediatra focar no que realmente importa: o cuidado centrado na criança.

Você acha que sabe, mas…

A AI (inteligência artificial) não é uma “máquina que pensa sozinha”. Tentando resumir de forma simples, mas não simplista, a AI é um conjunto de algoritmos capaz de “aprender” com dados e gerar respostas baseadas neles. 

Logo, quanto mais dados (imagens, históricos eletrônicos, genômica, comportamento) tem, mais robusta a ferramenta se torna - e melhores as respostas que ela é capaz de gerar.

E um outro ponto polêmico (perceba, já era polêmica em 2021) e crucial que o artigo aborda: não, ela NÃO veio para substituir os médicos! Juro, superem isso. Pode respirar tranquila e guardar o CRM porque ele ainda vale muito e vai continuar valendo kkk

A função da AI, na verdade, é ampliar o alcance do nosso raciocínio clínico e nos ajudar com funções “manuais” que tomam horas do nosso tempo e segundos quando feito por uma ferramenta dessa. Quer um exemplo? Preencher prontuário. Criar conteúdo. Buscar artigos de qualidade na internet (essa é pra quem não assina o The Peds, apenas rs).. enfim, inúmeras aplicações!

Mas quer saber qual o risco? Te falo. Achar que AI é “bala de prata” pra tudo. O artigo lembra que muitos projetos falham porque tentam enfiar soluções de tecnologia em problemas sem considerar o contexto clínico e ético. Então vamos entender melhor…

E já que estamos falando de AI… 

se você tem interesse em entender melhor como a inteligência artificial pode ser aplicada na pediatria e, mais importante, como usá-la a seu favor (sem virar refém de robôs que “juram saber mais que a gente” rs), fica ligada: mês que vem vem aí uma grande novidade no PDC. 

Spoiler: tem a ver com black november 👀

O que o estudo mostra sobre AI na saúde

O artigo faz um panorama bem realista (sem ser “futurista demais”) sobre como a inteligência artificial está atuando na saúde e quais são os próximos passos. 

A ideia central é simples: a AI tem potencial para apoiar o médico em diferentes escalas de tempo, sempre com foco em aumentar eficiência, reduzir custos e, claro, melhorar desfechos clínicos.

No curto prazo (0 a 5 anos), o impacto já é visível: “automatizar” tarefas repetitivas (de novo, só quem preenche prontuário todo dia sabe rs), realizar triagem com chatbots, trazer melhorias pra telemedicina e, por que não, diagnósticos de imagem mais rápidos e precisos. 

No médio prazo (5 a 10 anos), a promessa é de integração de dados em larga escala: juntar imagem, genômica, histórico clínico, exames laboratoriais e até padrões de comportamento para oferecer planos de tratamento cada vez mais personalizados para os pacientes..

Aqui, o que se discute é a medicina de precisão realmente saindo do papel para o consultório. E o pediatra, que sempre foi multitarefas, pode ter ao lado uma ferramenta que consegue enxergar nuances invisíveis ao olho humano, por exemplo. 

E no longo prazo (mais de 10 anos), o horizonte é ainda mais ousado: “gêmeos digitais” de pacientes (versões virtuais para testar condutas antes de aplicá-las), assistentes virtuais capazes de monitorar em tempo real, e uma medicina tão personalizada que cada criança pode ter seu plano de cuidado moldado segundo perfil biológico, ambiental e social. 

Parece ficção científica, mas o artigo lembra: esse futuro depende não só da tecnologia, mas de regulação, validação clínica e, talvez o mais difícil, de aceitação cultural da nossa classe - o que, considerando que a forma como aprendemos é exatamente a MESMA de 20 anos atrás, eu duvido que será “tranquilo” 😶‍🌫️

Onde estamos hoje e para onde vamos

Fato é, independente do quão “preparados” nós estejamos, hoje (2025) a inteligência artificial já está inserida em várias áreas da saúde (mas quase sempre em tarefas muito específicas).

Por exemplo: algoritmos que analisam radiografias ou exames de fundo de olho já atingem acurácia comparável (ou até superior) à de especialistas…

Também temos sistemas ajudando na triagem de pacientes em pronto-atendimentos, otimizando fluxos de UTI e até prevendo risco de readmissão hospitalar. Ou seja, não é mais só promessa: já existe AI trabalhando em segundo plano em cenários reais.

Mas sabe o que ainda não existe (e talvez nunca vá existir)? Uma AI que substitua o “senso clínico” humano: ouvir uma mãe preocupada, captar um detalhe da anamnese, entender o contexto social daquela criança…

Por isso, de novo: o cenário mais realista não é de competição, mas de parceria. O futuro da pediatria (e da medicina como um todo) deve ser de duplas: AI cuidando do que é repetitivo, volumoso e estatístico, enquanto o pediatra foca no que é humano, subjetivo e relacional.

Mas o artigo lembra que, para chegar lá, não basta tecnologia. Precisamos de validação clínica rigorosa, estrutura regulatória sólida e preparo dos profissionais para entenderem e usarem essas ferramentas. 

Porque, se bem utilizada, a AI pode devolver ao pediatra o tempo que ele mais sente falta: aquele da consulta olho no olho, sem pressa, sem planilha aberta ao lado. O sonho, né?

Implicações práticas para pediatras

A primeira implicação prática é simples: AI não é assunto só para engenheiro de dados ou para quem trabalha no Vale do Silício. Tirem isso da cabeça e sejam curiosos. 

Sistemas de prontuário eletrônico com suporte de decisão, algoritmos que sugerem diagnósticos diferenciais ou ferramentas que organizam riscos populacionais já estão, de alguma forma, presentes no nosso dia a dia. 

Ignorar isso é perder a chance de entender como essas ferramentas podem facilitar (ou complicar, se mal utilizadas) a nossa prática.

Segundo ponto: ninguém está dizendo que o pediatra precisa aprender a programar ou treinar redes neurais no tempo livre (a não ser que você realmente curta isso, claro 😅).

Mas é essencial saber o básico.. de onde vêm os dados, quais os limites da ferramenta e, principalmente: como interpretar os resultados. Em outras palavras, não precisamos ser criadores de AI, mas sim de usuários críticos.

Outro aspecto crucial é lembrar que AI não vem pronta para resolver todos os problemas. Muitos projetos falham porque são aplicados sem considerar o contexto clínico, ético e cultural. E cabe a cada um de nós questionar, validar e entender se aquilo realmente faz sentido no cuidado da criança e da família.

Por fim, talvez a maior implicação prática seja de postura. O futuro não será sobre escolher entre “AI ou pediatra”, mas entre pediatras preparados para usar AI como aliada e pediatras que ficam para trás. 

(((e, convenhamos, ninguém aqui quer ser o médico lembrado como “aquele que ainda imprimia bula de antibiótico em 2030”, né não?!)))

Em 1 minuto: o que você precisa lembrar

✅ AI não é ficção científica: já está presente na saúde, principalmente em diagnóstico por imagem e automação de tarefas repetitivas.

✅ Ela não substitui médicos (pode guardar o CRM 😅), mas amplia nossa capacidade de análise e tomada de decisão.

✅ O desafio não é só tecnológico, mas também ético, regulatório e cultural.

✅ Pediatras não precisam programar, mas precisam ser usuários críticos e preparados.

✅ Quem não aprender a usar, vai sim ficar pra trás.

Se você chegou até aqui, parabéns.. já pode se considerar parte do seleto grupo de pediatras que sabem que AI não é só o filtro que deixa sua selfie com cara de desenho animado. 😅 

Mais do que isso: você entendeu que essa tecnologia não vem para competir com a gente, mas para ser parceira (desde que saibamos usá-la com senso crítico) 

Na próxima edição, seguimos com outro tema essencial da prática pediátrica. Até lá, compartilhe a The Peds Journal com colegas pediatras e residentes. 

Afinal, conhecimento bom é aquele que se espalha (de preferência mais rápido que qualquer algoritmo de machine learning 🤖hehehehe) 

Beijinhos científicos,

Gabi do PDC